Rino Levi entendia que o projeto de hospitais deveria prescindir de modelos preestabelecidos e que as formas deveriam resultar da organização adequada de três diretrizes: programa funcional, circulações e flexibilidade física. Esses ensinamentos foram transmitidos durante o curso Planejamento de Hospitais, realizado em abril de 1953 pelo IAB-SP e organizado por Levi, Jarbas Karman e Amador Cintra do Prado.
O curso teve grande importância na remodelação dos hospitais brasileiros ao longo da segunda metade do século XX. O pesquisador da Fiocruz e arquiteto Renato Gama-Rosa Costa afirma que o curso foi um marco para a consolidação dos arquitetos como “protagonistas do processo de construção dos hospitais, desde a sua concepção até a entrega da obra” [1]. Em um artigo sobre a repercussão do curso, a Revista Paulista de Hospitais afirma que o evento “constituiu um autêntico sucesso nos meios universitários, científicos e hospitalares e representou, sem a menor dúvida, um passo importante para a remodelação das instituições nosocomiais brasileiras, verdadeiro marco miliário no aperfeiçoamento dos nossos processos de assistência ao enfermo” [2].
[...] não se admite mais a adoção de formas preestabelecidas, com plantas em X, em H ou em pente, como também discutir se o hospital deve ser horizontal ou vertical, em pavilhões ou em monobloco.
Em geral, cada projeto de hospital tem suas próprias exigências e particularidades, que podem influir decisivamente no seu planejamento. Para maior diversidade de soluções, entram em jogo também a topografia do terreno, a sua situação e orientação e as restrições estabelecidas nas posturas sanitárias e municipais, bem como outros fatores.
Como vemos, tantas e tão variadas são as condições e imposições que será conveniente evitar novas dificuldades, principalmente do ponto de visto da forma, que deverá ser inteiramente livre. A concepção do projeto deverá resultar unicamente do estudo funcional e técnico do problema, livre de quaisquer outras injunções.
Este é um ponto de vista básico do arquiteto, na fase de renovação em que se encontra hoje a arquitetura. Este ponto de vista tem importância decisiva em todos os detalhes da construção e do funcionamento do hospital, como de qualquer outro edifício. – Rino Levi, 1954, p. 39
Além de Rino Levi, Jarbas Karman e Amador Cintra do Prado, também foram professores do curso arquitetos como Jorge Machado Moreira, Roberto Cerqueira Cesar e Oscar Valdetaro. Entre os alunos encontravam-se profissionais (alguns deles ainda estudantes à época) da envergadura de Aldary Toledo, João Filgueiras Lima (o Lelé), Fabio Penteado, Salvador Candia, Eduardo Corona, Plinio Croche, Roberto Aflalo, Luiz Roberto Carvalho Franco, Alberto Botti, Marc Rubin, Hoover Américo Sampaio, Abelardo Gomes de Abreu e João Kohn.
Em 1954, as aulas foram reunidas em um livro homônimo publicado pelo IAB-SP, constituindo uma das primeiras publicações técnicas sobre a arquitetura de hospitais do país. Ao estudar a formação do campo da “arquitetura hospitalar” no Brasil, a arquiteta, professora e pesquisadora da UFRJ Ana Albano Amora alega que, diferente de publicações anteriores, o livro não propõe “o trabalho do engenheiro e o do arquiteto subsidiados pela orientação imprescindível do consultor, mas um trabalho de equipe coordenado pelo arquiteto” [3].
Diante da importância desses fatos, o Instituto de Pesquisas Hospitalares Arquiteto Jarbas Karman (IPH) firmou uma parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de São Paulo (IAB-SP) para disponibilizar gratuitamente, de forma digital, o livro Planejamento de Hospitais, possibilitando amplo acesso ao seu conteúdo.
O download do livro está disponível no portal do IPH.
Notas
1- Rosa, Renato Gama-Rosa. Apontamentos para a arquitetura hospitalar no Brasil: entre o tradicional e o moderno. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 18, supl. 1, pag. 64, dezembro de 2011.
2- “1° Curso de Planejamento de Hospitais”, Revista Paulista de Hospitais, ano 1, v. 1, n. 6, pag. 15-17, junho de 1953.
3- Amora, Ana M. G. Albano. A formação do campo da arquitetura hospitalar no Brasil. In: Amora, Ana M. G. Albano; Costa, Renato Gama-Rosa (org). A Modernidade na arquitetura hospitalar: contribuições para a historiografia - Volume 1. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Arquitetura - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - PROARQ-FAU-UFRJ, 2019. Pag. 41.